terça-feira, 28 de setembro de 2010

Claudia: entrevista com Angélica

Como poucas celebridades da TV brasileira, Angélica soube reinventar sua carreira e seu destino. Linda, rica, feliz, bem casada, bem-sucedida, ela é uma inspiração e um exemplo do poder transformador da ambição equilibrada, do talento e do trabalho duro. Ela conta a CLAUDIA qual foi o combustível da revolução pessoal que a manteve no auge quando tantas decaíram.



 
A apresentadora Angélica está de saída quando o filho Joaquim, 5 anos, pergunta por que ela tem que trabalhar. “Para poder comprar coisas, como o seu leitinho”, esponde, na tentativa de convencer o pequeno. Dias depois, ao perceber que a mãe se aprontava novamente para sair, disparou: “Não quero que você vá trabalhar. Já tem muito leitinho lá na despensa”. A cena, contada aos risos por ela, tem como razão de ser uma rotina puxada. Angélica se divide entre a gravação dos programas Vídeo Game (um quadro do Vídeo Show) e Estrelas, ambos da Rede Globo, os dois filhos – o caçula, Benício, está com 3 anos –, o marido, o também apresentador Luciano Huck, e os trabalhos publicitários. Encantada com a maternidade, faz planos de aumentar a família no final do ano que vem, quando ficará pronta a megacasa no bairro carioca do Joá, para onde se mudarão todos. Filha do metalúrgico Francisco e da dona de casa Angelina, a paulista Angélica Ksyvickis Huck, 36 anos, nasceu em uma casa simples em Santo André (SP). Aos 5 anos, foi eleita a menina mais bonita do Brasil no programa do Chacrinha, o que lhe abriu as portas do mercado publicitário. Em 1986, aos 13 anos, já comandava o Clube da Criança, na extinta Rede Manchete. Em 1993, mudou-se com sucesso para o SBT e três anos mais tarde chegava à Globo, onde deu uma guinada na carreira, recheada ainda com 13 filmes, 14 álbuns e participações em duas novelas e em vários seriados. Poderá ser vista contracenando com Huck em A Traída da Barra, baseado na obra homônima de Sérgio Porto, um dos dez episódios que integram a minissérie As Cariocas, de Daniel Filho, que estreia este mês na emissora. Na pele de Maria Teresa, destrói o apartamento onde vive com Cícero (Huck) após descobrir que o marido a trai com sua melhor amiga. “Não consigo imaginar a possibilidade de o Luciano fazer isso. É uma cena quase surreal”, diz Angélica, casada há seis anos. Capa de CLAUDIA pela quinta vez, ela falou sobre as cinco forças que a impulsionam e ajudam a explicar o sucesso no plano pessoal e no profissional.


1 Descendência


Hoje, a maternidade é minha maior motivação. Em tudo que faço, penso no que meus filhos vão achar. Relembro coisas das quais já tinha esquecido, desde uma brincadeira até valores que devem ser transmitidos. Sou uma mãe muito atenta: mesmo que não esteja fisicamente presente, quero coordenar tudo. O Joaquim é mais intelectual, e o Benício é mais animado. Eles se completam nessa diferença, e eu nesse exercício de criar dois filhos tão diferentes. Para educá-los, ajo muito pela intuição, guiada pelo que acredito. Posso até sofrer, mas dou bronca, sim, quando merecem. Por outro lado, quando um deles está doente, durmo até no chão. Acontece direto de um sarar e o outro cair doente. Fico louca! O Luciano adora brincar com eles, levar à escola, participa das reuniões. Na medida do possível, procuramos proporcionar a eles uma vida normal e estabelecemos algumas regrinhas. Quando fazem aniversário, por exemplo, guardo os presentes e vou entregando um a cada dia. É óbvio que toda mãe quer ver o filho feliz, mas eu e o Luciano nos controlamos para não deixá-los mal acostumados. Gostamos de mostrar que o dinheiro não cai do céu, e eles entendem. Mas isso, é claro, sem deixar de usufruir do que podemos. Se dá vontade de viajar, vamos viajar.


  2 Romance

 


 Na festa de aniversário do caçula, Benício, com o marido, Luciano Huck, e o filho mais velho, Joaquim.


 Luciano e eu somos parceiros acima de qualquer coisa, apesar de sermos bem diferentes: eu, bagunceira; ele, muito organizado. Ficamos mal-humorados quando não estamos juntos. Quando nos conhecemos, me apaixonei. Luciano se dedica profundamente a tudo o que faz, e no relacionamento também é assim. Admiro
nele a inteligência, a rapidez e o romantismo. Ele comemora datas importantes e dá presentes – especialmente joias, que eu adoro! Como sou superciumenta, fico ligada. E Luciano sabe disso. Existe o assédio. Independentemente da fama, ele é muito legal e envolvente. Mas também tem um ciumezinho, o que é natural em um casal que se gosta. Assim, procuramos cuidar bem um do outro, da relação, não dar motivo. Na verdade, o que às vezes me irrita nele não tem a ver com ciúme, e sim com a dedicação excessiva ao trabalho. Chega em casa destruído, não sabe o limite. Essa é uma questão que estamos sempre trabalhando.



3 Talento



No papel de Maria Teresa, na minissérie As Cariocas, com Rosi Campos, Leona Cavalli e Luiz Miranda (vestido de mulher)


Por trabalhar desde pequena, minha vida pessoal sempre caminhou ao lado da profissional. Mas consegui preservar uma certa normalidade. A fama não mexeu com a minha formação nem com meu caráter. Quando fico exausta, procuro descansar, viajo e vou me adaptando. Nunca pensei em parar. O bom de trabalhar desde cedo é que se aprende a lidar com as saias justas. Já me aconteceu, por exemplo, de ao fazer um show, aos 17 anos, ficar sem a saia no palco! Minha maior conquista profissional foi ter cativado o público infantil – o que não é fácil – numa época em que havia muitas apresentadoras, como Xuxa e Eliana. Quando parei com os programas infantis (Angel Mix acabou em 2000), muita gente achou que era uma crise. Fiquei fora do ar um tempo, sim, mas estava apenas querendo pensar na vida e aproveitar um pouco. Depois voltei focada em outro público (em 2001, passou a apresentar Vídeo Game e Fama), o que foi bem bacana. Então cresci com o público que ainda hoje me assiste. O Estrelas (iniciado em 2006) também me dá prazer. Acho que me saio bem como entrevistadora porque não levo isso tão a sério. O bom é que passei a conhecer muita gente interessante. Além disso, veio numa época em que eu precisava de mais tempo para a família. Tenho uma equipe bacana, que entende minhas prioridades. Não me arrependo de nada: o que quis, realizei. Minha maior ambição é que o programa Estrelas cresça e eu possa exercitar outras coisas que sei e ainda quero fazer.


4 Dinheiro


É consequência de trabalho duro, sério e feliz. E isso está acima do dinheiro. Tenho muito prazer no que faço e ganho muito bem por realizá-lo, o que faz com que me considere uma pessoa de sorte. Não que eu dê uma importância tremenda ao dinheiro, até porque nunca fui consumista. Dinheiro tem que ser algo que você usa para o prazer, mas de forma saudável. Não pode tirar a gente do centro. Desde criança, jamais fui de pedir mesada ou qualquer outra coisa. Mas, quando pedia, recebia. Meus pais cuidavam muito bem do que eu ganhava; então, isso nunca me preocupou. O Luciano às vezes fala: “ Você não compra nada!” Ele está me trazendo esse lado um pouco mais consumista. Apesar de ele gastar muito, eu fico tranquila, pois Luciano sabe administrar com com petência as nossas finanças. Ele entende do assunto.


5 Fé

No íntimo, acho que Deus é o que importa. Sou católica porque minha família é – gosto de ir à igreja pela energia que me passa. Também já me interessei pelo budismo. Penso que temos que ficar com o que é bom de cada religião. Procuro passar essa religiosidade para os meninos quando digo para pedirem um soninho bom ao anjo da guarda. Respeito a religião do Luciano. Tem muita coisa no judaísmo que acho o máximo. É a crença de um povo unido que, pelo que sofreu, se ajuda bastante. Quanto aos nossos filhos, vão fazer as próprias escolhas. E, se pedirem, vamos ajudá-los a decidir.


Fotos abertura, Nana Moraes; com a família, João Miguel Júnior; As Cariocas, TV Globo/Ique Esteves/Realização Noris Martinelli/Cabelo e maquiagem Celso Kamura, salão CKamura

Produção Beto e Celso Cavalcanti (SP) e Chris Böller (RJ); Karen Fujisaki (assistente)/Vestido, Maria Bonita Extra; anel e pulseira, Miriam Kimelblat

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