quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Lado B de Angélica

Com quantas co res se pinta um ícone pop? Andy Warhol, o artista plástico norte-americano - aclamado na década de 60 por vender arte e celebridades, como Marilyn Monroe, como artigos de consumo, responderia: todas. Não importa. A imagem será sempre a mesma que o público, os fãs e a crítica, muitas vezes, esperam e estão habituados a ver. E o que esperam de Angélica? Aos 36 anos de idade - 32 deles diante das câmeras de televisão -, ela é um dos exemplos nacionais mais bem-acabados desse tipo de produto massificado da indústria cultural, que enquadra a artista de São Bernardo do Campo no estereótipo da boa moça, simpática, certinha, sempre alto-astral, uma autêntica "princesa" nascida e criada na tevê. E ai dela se sair desse personagem!

Mas será que a Angélica da tevê é a mesma da vida real? No final da tarde da terça-feira 16 de março, a apresentadora chegou bem a vontade ao estúdio do fotógrafo André Schiliró, no bairro do Jardim Paulistano, em São Paulo. De camiseta cinza, calça jogging azul-marinho bem larguinha e tênis, ela usou a janela para cortar caminho e ir direto para a sala de maquiagem e produção. Descontraída e sem-cerimônia, brincou com maquiadores e com a stylist Manu Carvalho e foi logo checar os vestidos separados para a sessão de fotos. Diante das duas araras com looks distintos, um dilema. Na primeira, roupas chiques, de festa; na segunda, modelitos mais ousados e modernos. "As pessoas esperam me ver usando estes (apontando os vestidos mais comportados). Mas eu gosto mais dos outros", comentou ela.

Este perfil tem a pretensão de apresentar a Angélica que gosta mais dos vestidos ousados e modernos. A Angélica que não se preocupa com a imagem que as pessoas têm dela. A que assume ter sido ela quem paquerou o marido, Luciano Huck, mesmo quando os dois tinham namorados. Aquela que confirma ter colado na escola para passar de ano, e convencer a mãe a deixá-la voltar à carreira artística, e que viveu um início de síndrome do pânico quando ficou fora do ar. A menina anônima que não gostava de gente e a mulher adulta e famosa que dispensa o assédio de fãs mais histéricos. Eis, enfim, o lado mais humano de alguém que se acostumou a revelar somente o que as polegadas da tela da tevê mostram. E, acredite, Angélica é ainda mais interessante quando está fora deste enquadramento.
"Eu não gostava de gente"

"Com 4 anos, era tímida. Eu não gostava de gente: era muito loira, muito branca, chamava a atenção sempre e isso me incomodava. Foi então que minha mãe, dona Angelina, me levou ao programa do Chacrinha, achando que seria bom para a minha timidez - eu adorava ele, imitava as chacretes, era o momento que ela me via mais solta. Ela seguiu a intuição de mãe e eu comecei assim. Ela sempre foi muito sábia: era uma dona de casa e, de repente, se tornou empresária de uma das pessoas mais conhecidas do Brasil. Ela teve que discutir com gente como o Daniel Filho, o Boni e ela nunca estudou."



Quem não cola...

"Dona Angelina sempre foi muito caxias: tinha hora para jantar, almoçar e ir para a escola. Ela era a pentelha das agências de publicidade e acho que isso foi um diferencial porque, de certa forma, eu era tratada como uma criança normal pelas agências, não como mais um produto. Então, quando comecei a ir mal na escola, ela me tirou de todos os trabalhos. As pessoas ligavam fazendo propostas e ela dizia não. Aí fiquei brava, a gente brigou, eu era "pré-aborrecente" e tratei de melhorar minhas notas. Como? Dei meu jeito... colei mais, né?" (risos)



Minha história com o Luciano

"Começou assim: a gente já se conhecia há quatro anos, ele sempre me chamava para cantar no programa dele e sempre vinha com uma conversinha safada. Ele é bom de xaveco, espero que tenha piorado (risos). Não está praticando mais, anda sem tempo... (mais risos). Mas ele era muito bom de xaveco. Na verdade, a gente já tinha dado uns beijos assim, na vida, né? Os dois na guerra, na luta, mas nunca tinha rolado nada, só beijo. Achava ele interessante, mas era muito namorador e eu não queria isso para mim. Foi quando o Diller Trindade juntou a gente para fazer o filme Um Show de Verão. A gente aceitou, seríamos o par romântico. Fomos fazer a primeira leitura do texto e eu pensei: 'Isso não vai dar certo'. Eu namorava na época e ele também. O ensaio foi na minha casa, a gente foi chegando bem perto no sofá, coisa e tal, aí fui levá-lo ao portão e, assim que fechei a porta, virei para a Débora (Montenegro, a empresária) e disse: "Morreu! Vou pegar!". Sou sagitário, óbvio que era eu quem ia pegar (risos). O filme dos bastidores era muito mais interessante! Era punk rock, enquanto na tela era beijo técnico, sem língua... Tínhamos camarins diferentes, mas a gente vivia no mesmo, se pegando... e a Débora no corredor, me esperando (risos). O mais engraçado é que ninguém percebia isso na época (em 2003). Era tudo tão discreto, dentro do possível. Mas demorou. A gente também teve um cuidado com as outras pessoas, a gente namorava, não dava para ficar nessa coisa emendando um no outro. Ficamos numa paixão muito louca, assim, de início de namoro, seis meses depois a gente estava casando. Do filme, ninguém viu. A bilheteria foi péssima, mas serviu para muita coisa: rendeu duas crianças, um casamento, uma barriga seis meses depois... Sucesso de bilheteria!" (risos)

''Cantar ainda me garanto mais,
eu amo cantar, fazer show,
só não tenho voz!"

Imagem

"Eu tenho muitas faces, todo mundo tem. Acho legal mostrar esse outro lado, apresentar isso de uma forma que as pessoas quebrem qualquer tipo de preconceito. Já fiquei muito incomodada até com capa de revista em que estou megaproduzida e as pessoas não gostando do resultado, reclamando no meu site, no blog... É a imagem que elas fazem de mim. Me viram crescer, casar, ter filhos, agora o casal, eu entendo, mas não vou deixar de fazer algo diferente por conta disso."

Assédio

"Óbvio que a gente é artista e quer ser admirado, ter o trabalho reconhecido. Eu gosto de dar autógrafo, mas realmente essa coisa da fama, assédio, tem um limite. Eu gosto de sair na rua e não ser reconhecida também. A histeria não é uma coisa que me agrada mais. Eu me acostumei com a forma diferente de as pessoas me abordarem numa boa, sem correr, agarrar, puxar o cabelo - coisa que já aconteceu comigo e, hoje, não acontece mais. Quero que reconheçam o meu trabalho. Eu acho que faço direitinho, fico feliz que venham comentar."



Atriz, eu?

"Estava no SBT em 1993, quando o Boni me chamou para fazer novela.: era para o papel da Malu Mader, em Top Model. É óbvio que foi muito melhor a Malu ter feito (risos). É difícil recusar um convite do Boni, mas ele entendeu. Eu não me considerava uma atriz. Cantar ainda me garanto mais, eu amo cantar, fazer show, só não tenho voz. E, como atriz, eu brinco daquilo, é muito intuitivo. Agora mesmo, o Daniel Filho me chamou para fazer um seriado dele, um episódio. Não vi o roteiro, sinopse, nada, mas eu topei porque estou devendo muito tempo isso para ele. Não vai dar trabalho, vai ser gostoso fazer, é uma comédia, mas aí outro dia eu estava pensando: gente, e se eu tiver que chorar? Comecei a ficar com umas paranoias... Eu não sou atriz, né?"



Síndrome do pânico

"Aos 29 anos estava tentando entender o que eu queria fazer. Era óbvio que ia fundir o motor e tive um início de síndrome do pânico. Comecei a ter muitas questões na cabeça. Estava há um ano fora do ar na tevê nessa época e foi nesse tempo que eu fiquei doida. Ficava muito cansada e me faltava ar. Se eu ia viajar, para cantar nos fins de semana, eu não conseguia. Nos ensaios, eu passava mal e tinha que parar. Não saía a voz e eu comecei a ver que estava tudo errado. Fui fazer ioga e melhorei. Não precisei tomar remédios, essas coisas, porque fui diagnosticada no início. Consegui curar tudo na ioga, na calminha, nos florais e remédios naturais."



Homenagens

"Algumas pessoas foram importantes nesse caminho: o Paulo Ricardo, meu ex-empresário. O autor da versão de "Vou de Táxi", Sérgio Lopes. O Maurício Shermann, que me quis como apresentadora. O Boni, que me levou para a Globo. E a Marluce Dias, o Mário Lúcio Vaz, o Roberto Talma e o Érico Magalhães, que cuidaram de mim quando fiquei fora do ar por mais de um ano. Eles me tiraram do ar, me preservaram. Cuidaram do produto e acabaram cuidando também da pessoa. Me protegeram da imprensa, de tudo, me ampararam, não deixaram me sentir abandonada."



Bastidores

"Eu fiquei à frente de um programa infantil durante muito tempo e via as mães jogando as crianças ali, beliscando, mandando fazer as coisas... Se elas não passavam nos testes, as mães gritavam, batiam. É um negócio horroroso! Surreal. Eu falava: 'Leva ela embora, ela não quer fazer, quem quer fazer é você!' Não adiantava. É aquela coisa de mãe de miss, que não teve aquilo e projeta no filho ou vê nele a esperança de uma vida melhor, de ganhar dinheiro. Então, não julgo. É só triste. Mas comigo e minha mãe isso não rolou, graças a Deus."



Filhos artistas

"Se um deles chegar para mim hoje e disser 'quero fazer televisão', eu diria não. Primeiro que eu acho que criança pequena a gente tem que guiar os passos. Quer fazer? Então tá, vai fazer aula de canto, de música, estudar, até chegar na idade para ver se ele iria fazer mesmo. Eu mostraria outros caminhos, porque ia ficar grilada com o fato de até que ponto ele quer aquilo ou quer ser igual ao pai e a mãe? Outro dia o Luciano até brincou: se um deles, com 13 anos, chegasse e dissesse 'pai, quero fazer Malhação, me ajuda?', ele ia dizer: não também. Mandava para Londres estudar teatro (risos). A gente ralou muito e para eles vai ser tudo mais fácil. É bom facilitar um pouco, mas tem um limite, para não criarmos monstrinhos."


''Estava há um ano fora da tevê e foi
nesse tempo que eu fiquei doida.
Ficava muito cansada e me faltava ar"


Luciano Huck

"Às vezes, acho que sou casada com vários Lucianos. Será que casei com um só? Ele trabalha com muita paixão, com tudo ao mesmo tempo. É inspirador você ter alguém assim dentro de casa. Ver alguém fazendo tudo tão direito e se dedicar tanto e conseguir. Ele me inspira a trabalhar, a correr atrás, a fazer, e eu o acalmo em algumas coisas, porque eu ainda tenho uma calma maior para essas coisas de trabalho."



Joaquim e Benício

"O Joaquim (5 anos) é mais sensível. Sente minha falta, é amoroso. O Benício (2 anos) é muito apaixonado por mim também. Mas ele é doido. Chega e fala. Conversou hoje com a Daiane dos Santos (na gravação de Estrelas), já fez um monte de perguntas. Ele fala tudo errado e é muito engraçado. A gente é muito unido, os quatro. Como moramos no Rio e o resto da família toda mora em São Paulo, isso nos obriga a, por exemplo, pegá-los na escola. A gente tem motorista, mas queremos que nós ou alguém da família faça isso. Quando estamos em São Paulo é uma delícia. As avós 'brigam' para ficar com eles."
Futuro

Temos ideia de mudar um pouco o programa, de colocar uns quadros novos... O "Videogame" também vai mudar o jogo, tudo para a programação nova. Tem esse seriado do Daniel Filho que eu vou fazer. E planos pessoais, não tem nada muito concreto, a gente está vivendo muito bem, muito feliz. Filhos não agora, se for o caso, no ano que vem. Acho que vai ser ano que vem. Vou ter um terceiro e eu gostaria muito que fosse uma menina. Mas se não for, vai ser ótimo também. Eu estou muito feliz, tenho que considerar isso: é a melhor fase hoje, mas quero que seja melhor ainda amanhã. A gente não pode se acomodar, não é?"



Fonte: Isto é Gente

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