Em 16 anos ininterruptos no ar, Luciano Huck tornou-se um dos rostos mais conhecidos e queridos do país. A carreira na TV começou em 1994, no Circulando, um programa que ia ao ar tarde da noite, na TV Gazeta de São Paulo. Sua escalada para o sucesso começaria três anos depois, na Band, com o programa H. Ali, arrebanhou o público jovem com muito carisma e com as musas Tiazinha (Suzana Alves) e Feiticeira (Joana Prado). Em abril de 2000, ele migrou para a TV Globo e fez do Caldeirão do Huck um programa soberano nas tardes de sábado. A vitória na categoria de melhor apresentador de 2010, na quarta edição do Prêmio QUEM Acontece, é apenas mais uma prova de sua imensa popularidade, que se reflete também nos mais de 2,7 milhões de seguidores no Twitter e nos mais de 1 milhão de fãs no site de relacionamentos Facebook.
Aos 39 anos, Huck é casado há seis com a apresentadoraAngélica, de 37, e é pai de Joaquim, de 5, e Benício, de 3. “Levo-os à escola todos os dias. Sei que meus filhos só vão ser pequenos uma vez na vida”, diz ele. Juntos, Huck e Angélica são um sucesso de popularidade e também um espelho de como o trabalho bem-feito pode trazer junto um patrimônio considerável. Mas não pense que a reboque venha algum tipo de deslumbre. “Não sou um cara que você vai ver cheio de ouro ou tomando um champanhe de sei lá quantos mil dólares. Não tenho esses prazeres”, afirma Huck. Ao contrário. Conhecido por sua consciência social, o apresentador mantém desde 2004 a ONG Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, que já transformou mil jovens da periferia de São Paulo em profissionais do audiovisual. A seguir, sua entrevista. Um dos vencedores da quarta edição do Prêmio QUEM Acontece, o apresentador fala sobre sua relação com a mulher, Angélica, conta como educa os filhos, Joaquim e Benício, revela como lida com o dinheiro e se diz “megapronto” para a chegada dos 40 anos
QUEM: A que se deve a identificação que o público tem com você?
LUCIANO HUCK: Não existe sucesso sem trabalho. Só no dicionário. Trabalho muito, gosto de ficar mexendo no programa, tenho uma equipe muito competente, do Palito (apelido de Rodrigo Cebrian), diretor-geral, aos estagiários que leem cartas.
QUEM: No Caldeirão, pessoas de baixa renda têm suas casas e carros reformados. Que cuidados toma para não cair no assistencialismo?
LH: Esse limite é muito intuitivo. A gente não faz assistencialismo, faz televisão. Só que o protagonista do programa não é o galã da novela das 8. É o cara de algum lugar do Brasil que me escreveu. Quero que as pessoas se vejam no Caldeirão.
QUEM: Por que tanta gente se emociona com esses quadros?
LH: As pessoas gostam de ver as histórias dos outros. É bom você ver que há pessoas que estão melhores ou piores que você, pessoas que pensam de modo diferente de você ou que pensam igual, que estão passando pelos mesmos problemas, que têm as mesmas paixões, as mesmas vontades.
QUEM: Você chora junto?
LH: Não sou um cara de chorar. Gosto de me envolver com as histórias, o que é diferente de me emocionar ou chorar.
QUEM: Você e Angélica postam no Twitter fotos pessoais. Esse é um jeito que encontraram de abrir sua vida pessoal?
LH: Não tenho personagem. O que sou em casa, na televisão ou no estádio de futebol é tudo a mesma coisa. As pessoas sabem de nossa vida pessoal o que a gente quer que elas saibam. Mas somos pessoas públicas, então, tentamos andar no fio da navalha.
QUEM: São quase sete anos de relacionamento. O que mantém vocês juntos?
LH: Ah, a paixão e a parceria. Somos um encontro bom.
QUEM: Angélica contou a QUEM, em maio de 2010, sobre a vontade de vocês terem uma menina em 2011. Isso ainda está de pé?
LH: A gente vem treinando. Um terceiro filho podia ser bom. Está de pé. É bom ter mais de dois. Dois é muito democrático. Três fica mais misturado. Sempre vai ter uma janela a menos (no carro), uma mão a menos (para segurar), sempre vai dar uma certa disputa, e isso vai ser bom.
QUEM: Vocês pensam em fazer inseminação para ter mais chance de ser menina?
LH: Não, deixa rolar. Se tiver mais um menino, está ótimo.
QUEM: Você vem de uma família abastada. Em que momento se sentiu impelido a mostrar na TV os menos favorecidos?
LH: Talvez haja um erro de informação aí. Minha mãe é professora universitária até hoje, meu pai é um advogado que foi construindo a carreira dele. Sou filho de um casal de profissionais liberais e intelectuais. Mas o vírus da televisão aberta me deu a oportunidade de rodar o país inteiro, de poder, de fato, entrar na casa das pessoas, poder ver como elas vivem, ouvir suas histórias. Gosto de poder ver as grandes diferenças deste país, e colocar isso na televisão.
QUEM: Como é sua relação com o dinheiro?
LH: Não tenho grandes pudores com isso. Nunca roubei ninguém. O que ganhei na minha vida foi legítimo, fruto do meu trabalho. Angélica idem, trabalhando há mais de 30 anos. Nunca fui perdulário e nunca vou ser. As coisas que tenho são, de fato, ou para poder rodar o Brasil inteiro e poder fazer o programa que faço ou para dar conforto a minha família. Não sou um cara que você vai ver cheio de ouro ou tomando um champanhe de sei lá quantos mil dólares. Não tenho esses prazeres. Meus prazeres são morar bem com minha família, poder viajar confortavelmente, poder fazer o que quero, na hora que quero. A gente não é excêntrico em nada. Gastar dinheiro não tem problema. Isso vou passar para meus filhos: você tem é que saber dar valor ao dinheiro. Não é porque você pode que vai deixar de ter, só porque alguém não pode. Mas nem por isso você deve fechar os olhos para quem não pode. Se você tiver seus valores muito corretos, dá para lidar bem com o dinheiro.
QUEM: E não precisar carregar uma culpa social por ser rico...
LH: Não, não tenho culpa. O Brasil está mudando também. Éramos um país com um abismo social muito grande, então as pessoas tinham vergonha de fazer sucesso, vergonha de ganhar dinheiro. Hoje, a classe C é a grande protagonista do Brasil. Agora, o que gira a indústria, o mercado publicitário é essa nova classe média que chegou. E, para essa gente que agora pode ter uma vida um pouco melhor, ter exemplos de empreendedorismo não é ruim.
QUEM: Você está à frente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias. Desde 2004 já são mil jovens atendidos. Esse é um caminho inteligente da caridade?
LH: Tento ao máximo não conectar minha imagem ao instituto. Para não haver uma falha de compreensão, de as pessoas acharem que quero agregar algum valor a mim através do terceiro setor. Estou no terceiro setor como entusiasta. O terceiro setor hoje, no Brasil, pode ser uma grande incubadora de políticas públicas. Essa filantropia, que até alguns anos atrás estava sempre limitada aos institutos, ficava no subsolo das empresas. Agora, as empresas começaram a entender isso como uma ferramenta de marketing. Não tem que ser encarado como caridade.
QUEM: Como você explica a Joaquim e Benício que, apesar do assédio da imprensa e dos fãs e da boa condição financeira, eles fazem parte de uma família normal?
LH: A normalidade são os valores que você passa para seus filhos. Já vi muita gente normal na favela, como já vi muita gente normal em palácios mundo afora. Não é dinheiro, condição social ou fama que fazem os valores serem normais ou anormais.
QUEM: Como faz para administrar seu tempo com os meninos?
LH: Levo-os à escola todos os dias. É a hora em que a gente vai conversando. Sei que meus filhos só vão ser pequenos uma vez na vida. De manhã, eu os levo à escola, faço esporte, tomo um banho e vou trabalhar.
QUEM: O que você gostaria que os meninos herdassem de você?
LH: Tenho traços da minha personalidade que só a maturidade me trouxe. Espero que eles possam carregar isso mais cedo. Essa coisa de ser o mais plural possível, de ter o discernimento de entender que não é só o seu ponto de vista que é legal, que você tem que ouvir e ver que a vida misturada é muito mais divertida do que quando é monocromática.
QUEM: E da Angélica?
LH: A inteligência, o bom humor, a beleza, o talento (risos).
QUEM: Quando jovem, você se achava bonito? Era namorador?
LH: Nunca fui uma pessoa bonita e não sou até hoje. Nunca tive problema com isso. Durante a vida, o homem pode ter outros temperos que podem suprir a beleza.
QUEM: Qual é o seu tempero?
LH: Não faço a menor ideia. Isso você tem que perguntar a minha mulher.
QUEM: Como está batendo a chegada dos 40 anos?
LH: Está bacana. Os 20 foram mais divertidos do que os 10, os 30 mais do que os 20, e os 40 serão melhores do que os 30. Estou megapronto. Vai ser divertidíssimo.
QUEM: Você é um fenômeno no Twitter, com cerca de 2,7 milhões de seguidores. Consegue ler tudo o que te escrevem?
LH: Leio bastante. O Twitter virou uma fonte inesgotável de pautas. Um bom termômetro para ver o que as pessoas estão achando. Quando sento no computador, dou uma lida geral.
QUEM: Você já disse que Angélica reclama dessa sua assiduidade no Twitter. Você se considera viciado?
LH: Já estou me tratando (risos). Aprendi a usar o Twitter como uma ferramenta para o programa e pessoal também. É como a televisão: trabalho muito, estou sempre tentando pensar em coisas, mas já aprendi a desligar a minha cabeça na hora em que preciso.
QUEM: Angélica o ajudou a encontrar esse equilíbrio?
LH: Ela me administra bem. Eu faço tudo o que ela quer sem perceber que estou fazendo.
QUEM: Você sempre foi um empresário inquieto, investiu em academia de ginástica, restaurante, grife de roupa, no site de compras coletivas Peixe Urbano. Qual será a próxima empreitada?
LH: Vendi tudo. A pousada de Fernando de Noronha, os restaurantes, a rádio (Jovem Pan do Rio de Janeiro, da qual era sócio) também. Estou muito focado na TV. No Peixe Urbano, tem uns moleques muito bacanas e achei que tinha uma certa sinergia comigo, com minha presença nas redes sociais. É uma coisa que não me dá trabalho, contribuo com ideias.
QUEM: Como você relaxa?
LH: Respeito as férias. Mesmo. São duas vezes por ano em que paro, fico com as crianças, com a Angélica. É uma delícia.
QUEM: Chega a desligar o celular?
LH: Desligo, lógico.
QUEM: Você parece sempre bem-humorado. O que o faz perder o humor?
LH: É difícil eu perder o humor. Tento sempre encontrar o lado bom das coisas. O que me dá mau humor é fome. Detesto ficar com fome. Fora isso, quando as coisas não saem do jeito que quero, é só tentar fazer de novo, tentar melhorar para, da próxima vez, ficar melhor.
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